Carroça vazia

Tenho diminuído muito meu acesso à programação da TV aberta, principalmente aos telejornais. É incrível como a tragédia vende. Nos programas de rádio também, como esticam notícias ruins. Levam ao pé da letra o conselho do poeta romano Juvenal ao imperador Caio Graco, pão e circo para o povo, tirando do foco as questões centrais. Se derem o pão, aí então estaremos retrocedendo à Roma antiga. Só que à época, a ideia era manter o povo sob controle, evitando rebeliões. Despolitizado e sem vontade própria, o povo era manipulado através de seu viés agressivo, sendo a ele oferecidas lutas de gladiadores, compostas por pobres, escravos e bandidos que aceitavam o risco de perder a própria vida para que a população se divertisse.

Hoje o noticiário é ruim mesmo, falta-lhe conteúdo adequado. Falta-lhe isenção nos comentários, percebe-se claramente, quem os vê ou os ouve, seus desvios político-partidários.

Independente do aspecto político desses noticiários, que daria tema para outro artigo, e retornando ao caos da violência, qual a necessidade de se mostrar tantas cenas desumanas? A noticia tem que ser veiculada, mas não precisariam mostrar o acidente e as fotos das vítimas. O atentado e os corpos esquartejados. Eles não têm a noção de como isso fica intoxicando a mente das pessoas. Todo esse lixo “jornalístico” tóxico, armazenado em nosso cérebro. E esse acúmulo vai aos poucos te amargurando sem que você perceba. Assiste um jornal à noite e acorda triste sem saber o porquê. Discute à toa logo no café da manhã com esposa ou filhos. Todo lixo tóxico mental acumulado vai sendo distribuído.

Os redatores chefes desses telejornais deveriam ler artigos como este para ver se caem na real e colocam mais qualidade nesses noticiários e menos sangue. Mais foco nas questões centrais, mais comentaristas especializados para discussão de temáticas relevantes, que nos ajudem na formação de nossos conceitos e opiniões. Que empobrecimento é esse que estamos enfrentando? Pessoas estridentes, travestidas de comentaristas, soltando sua verborragia desenfreada, agredindo nossos tímpanos. Isso me lembra de uma história: “Certo dia um pai sentou com seu filho à beira de uma estrada rural e pediu ao garoto para que de olhos fechados se concentrasse em tudo que ouvia e descrevesse. E o garoto começou: “— Ouço pássaros cantando, ouço também um grilo, as águas do riacho.” De repente foi interrompido pelo pai que perguntou: “— Ouve uma carroça vazia vindo ao longe?” Ao que respondeu: “— Sim, mas como sabe que ela está vazia?” E seu pai falou: “— Quanto mais barulho ela faz, mais vazia ela está.”

Hoje quando vejo esses pseudocomentaristas de alguns telejornais, fazendo barulho demais, falando demais, lembro dessa história da carroça vazia. Mas se analisarmos friamente, está tudo bem de acordo, muita violência visual e verbal. Essa é a proposta. Haja penico!

Edmilson Fabbri em Setembro de 2019
Para Revista Ideias