A dor como veículo para consciência

Budha já dizia que temos dois caminhos para atingir a consciência: O amor e a dor.

Muitas vezes, não queremos ver as coisas como elas são, e insistimos em uma maneira de agir.

Seja em situações relativas ao nosso cotidiano, como no relacionamento com o outro, na educação dos filhos, onde normalmente queremos nos poupar de desgastes e não fazemos o que deve ser feito, como consequência, problemas na educação dos mesmos. Desobedientes, mal educados, constrangimento em público por suas ações, etc… Nesses momentos vem a dor de não ter feito o que precisaria ser feito na hora certa. É apenas a consequência da lei do retorno.

O que não pode é essa dor ficar sem sentido. sem um significado maior, pois é neste momento que deveria vir a consciência do aprendizado, e a não incursão no erro novamente. Assim deveria ser.

A dor mal compreendida e não assimilada gera sofrimento. A dor analisada e assimilada gera crescimento.

Olhando-se pela tradição védica, na composição de nossos corpos, diziam eles que somos compostos por cinco corpos: Físico, energético, emocional, mental e espiritual. Em função disso, a manifestação da dor será diferente, já que depende de qual desses corpos foi atingido. Segundo essa tradição as dores seriam manifestadas da seguinte maneira:

– A dor física é quando temos qualquer trauma físico, uma queda, queimadura ou alguma enfermidade que atinja o físico.

– A dor energética se traduz, principalmente, pela sensação de esgotamento e fadiga, advindos de insônia e excesso de preocupações.

– A dor psicológica afeta o corpo emocional. Ela causa inquietude interior, é a dor da perda de alguém que amamos; dor da desesperança.

– A dor no corpo mental, é a dor da incompreensão para com os outros e dos outros para conosco, por falta de correspondência mental para estabelecer essa comunicação.

– A dor no corpo espiritual, é a mais profunda, pois está ligada ao aspecto existencial. É o não encontro de respostas que dão sentido as nossas vidas. Está ligada ao aspecto transcendental.

Voltando a Budha, ele teve a iluminação de compreender que toda forma de dor vem da ignorância, ou seja, não saber o porquê de existir a dor é que nos faz dar-lhe toda a importância que tem.

Muitas culturas antigas referenciam períodos em que o homem não conheceu a dor. Foi a chamada Idade de ouro. Se efetivamente existiu ou não, não sabemos. Mas a sua presença na memória ancestral da humanidade nos indica que em algum lugar do inconsciente coletivo, conforme Jung, existe o anseio de libertar-se da dor, da velhice e da morte.

Enfim, compreendendo que dor e prazer são manifestações da existência relacionadas à dualidade, quanto mais conscientes estamos, menos suscetíveis estaremos à sua constante oscilação.

EDMILSON MARIO FABBRI – Para o Instituto Ciência e Fé – Maio 2020