PARADOXOS da medicina

Relações cada vez mais distantes, baseadas em exames e máquinas, cada vez mais virtual. Será que não precisaremos sequer ir ao consultório?

A medicina, nos últimos 20 anos, deu um salto no seu desenvolvimento tecnológico, possibilitando avanços inimagináveis em diagnósticos por imagem, como também no campo da robótica, principalmente em cirurgias minimamente invasivas, sem falar na parte estética onde são feitos verdadeiros milagres. A máquina a serviço do homem. Tecnologia quebrando barreiras até antes intransponíveis. Transplantam-se corações, rins, fígados, córneas, etc… Colocam-se stents, trocam-se válvulas, temos pró- teses para tudo. A medicina estética transforma as pessoas. Clareiam-se dentes, escurecem-se peles. Parece não haver limites no desenvolvimento desse mundo tecnológico.

Em contrapartida, engatinhamos no entendimento das funções cerebrais. Não se consegue decifrar essa caixa preta chamada cérebro. Conseguimos mapeá-lo através das tomografias e ressonâncias magnéticas, mas decifrá-lo… esse é o enigma. Descobriu-se a importância de hormônios tipo serotonina, melatonina e grelina, respectivamente na regulação do humor, sono e apetite, mas temos dificuldades nos seus ajustes.

Temos exames para tudo, cirurgias para tudo, embelezamos, tentamos não envelhecer, porém as pessoas estão cada vez mais tristes, depressivas, ansiosas, frustradas, à mercê desse mundo tecnológico que não as entende, procurando razão para suas existências.

Investe-se pouco na capacitação do futuro médico na compreensão do ser humano. Sai dos bancos universitários sabendo manejar máquinas caríssimas e não lhe ensinam a buscar compreender o próximo. Já sai um super especialista em alguma área e não aprende a entender o todo. Está ocorrendo um esquartejamento do ser humano a tal nível, que temos especialistas em ombros, joelhos, mãos. Não está longe o dia de cuidarem apenas da mão direita ou do joelho esquerdo. Chegaremos ao paradoxo de termos médicos que saberão tudo sobre nada, tão pequena será sua área de abrangência.

Relações cada vez mais distantes, baseadas em exames e máquinas, cada vez mais virtual. Será que não precisaremos sequer ir ao consultório? Hipócrates revirar-se-ia várias vezes no sepulcro!!!

Por sorte, vozes têm-se levantado no sentido de chamar a atenção para a necessidade de melhor entendimento do ser humano. Proposições da volta do médico de família, do contato mais próximo com o paciente. Da necessidade de ouvi-lo antes diagnosticá-lo, valorizando sua capacidade de reação e preocupando-se com seu equilíbrio emocional para ter-se um reflexo positivo no físico.

Esse é o grande desafio que se apresenta, a tentativa da reversão desse paradoxo.

Dr. Edmilson Fabbri
Para o Jornal Universidade Ciência e Fé
(http://www.cienciaefe.org.br/) em NOVEMBRO/2015